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inaugurou Sexta 08. 05. 2009, às 21H30.
no Espaço Avenida, 211

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A nossa língua não cura
É de forma fragmentada e informe que o pensamento se insinua. Tentamos dar-lhe sentido: captá-lo, aprendê-lo, elaborá-lo, relacioná-lo, negociá-lo, enfim, solidificar esse informe. Esta formalização não é mais que um artifício para o tornar eficiente. Supostamente é o que se pede. Pede-se uma inevitável artificialidade, um duplo ou sósia utilitário que resolva, nem que seja parcialmente, questões individuais e sequentes relacionamentos com um contexto. O corpo e a linguagem costumam ser veículos nesse relacionamento.
Mas aqui, a nossa língua não cura:
A linguagem nem sempre sutura os ferimentos provocados pela comunicação e a nossa língua, ao invés da dos animais, não ajuda a sarar os ferimentos do corpo.
Trata-se de deixar à linguagem e ao corpo dum trabalho artístico essa tarefa.
Essa tarefa, esta exposição, não passa por definir possibilidades ou impossibilidades mas aceitar insuficiências – as do discurso, as do fazer e as da apresentação dos mesmos.

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O que aqui pode ser visto é uma reunião de trabalhos.
O que antecedeu essa visão foi uma reunião de artistas.
Como agente de união nesta mostra, o meu olhar nunca esteve de frente para as obras já que à excepção de uma, mais nenhuma existia à data. A possibilidade passa por um olhar por trás e o que aí se encontra é informe e escuro – tal como quando se entra num espaço sem luz, o olhar se vai habituando ao negrume e aos poucos se consegue perceber formas por diferenças tonais, também neste processo de união, o antes informe foi-se revelando progressivamente até passar a existir fisicamente.

Isabel Ribeiro, 2009

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